Não há homenagem maior do que preservar a memória daqueles que foram fundamentais. Com o desaparecimento de Dr. Maud Nogueira Fragoas, perdemos uma referência histórica na vitoriosa trajetória da Uniodonto.
Nascido em Bebedouro a 26 de novembro de 1937, filho de mãe doceira e pai vendedor de doces, entendeu desde muito cedo o valor do trabalho na promoção da vida. Tornou-se cirurgião-dentista por resistir à carreira da Medicina, que era vontade de seus pais.
Foi a São Paulo em busca do curso de medicina. Depois, para o Rio de Janeiro em uma última tentativa. Porém acabou abandonando o curso mais uma vez e retornando ao município de Bebedouro, dois anos depois de sair.
Ele voltou para dar explicações para os meus pais, que tinham investido dinheiro e expectativa. Como a maioria dos pais da época, eles queriam um filho médico. Mas ele acabou optando por outra carreira: a odontologia.
E o acaso ajudou a encontrar seu caminho. Soube que no interior de Minas Gerais, em Uberaba, havia uma faculdade de medicina reconhecida. Mas, chegando à cidade, descobriu que as inscrições estavam encerradas e, por ironia do destino as inscrições para a odontologia estavam disponíveis. Para não perder a viagem, fez a inscrição. Foi aprovado em terceiro lugar no teste obrigatório e ingressou na faculdade. A profissão tornou-se uma verdadeira paixão.
Cresceu com o exemplo do trabalho diário dos pais para darem o melhor para a família, o que fez surgir sua aptidão para conduzir negócios próprios e se engajar pessoalmente na fundação da Uniodonto.
Determinado, sempre procurou pelo melhor lugar para viver e desenvolver-se. Depois de formado, voltou para São Paulo a convite de um tio, que trabalhava em um consultório e chegou a instalar TVs de circuitos fechados para consultórios. Regressando à Bebedouro para ajudar os pais nos negócios, vendeu livros, jornais, gás…
Mas como nada disso era o que o recém-formado odontólogo tinha em mente como objetivo, ele optou por voltar à capital, em busca de novas oportunidades. Começou a trabalhar no pronto socorro da Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas (APCD). Posteriormente fui trabalhar como dentista no Sindicato da Borracha por 14 anos.
Com a experiência adquirida e em busca de estabilidade, Dr. Maud tomou a decisão de montar seu próprio consultório.
Ele sabia que, como profissional liberal, os cirurgiões-dentistas, poderiam ter voz, empreender. Por isso foi um dos construtores da Uniodonto que se tornou uma das maiores conquistas de sua vida. Foi o encontro da odontologia com a sua missão, o seu papel social. Visionário, Dr. Maud entendeu que o cooperativismo era o caminho para a democratização do acesso dos brasileiros à odontologia.
E os fatos conspiraram a seu favor. Em reunião no ano de 1978 o então superintendente da Unimed Dr. Leon, relatou ao Dr. Maud que achava interessante a existência uma cooperativa odontológica associada ao grupo Unimed São Paulo. Foi cedido um pequeno espaço na sede da Unimed para dar início aos serviços, a partir desse momento nascia a semente da história de sucesso da Uniodonto de São Paulo.
Dr. Maud enfrentou a resistência das velhas estruturas ao novo. No início, foi preciso construir relações de confiança. Havia pouca informação sobre o cooperativismo e seus princípios. Os consultórios odontológicos contavam com pacientes privados. Por isso, como Dr. Maud lembra em uma entrevista: “equilibrar o número de clientes e o de cooperados era uma tarefa muito difícil, mas depois de muito perseverar e acreditar no modelo, fomos adquirindo a confiança de grandes empresas e o bom resultado foi inevitável”, conta.
A Uniodonto consolidou-se como cooperativa odontológica, congregou cooperados, ganhou mercado, fortaleceu-se.
Dr. Maud presidiu a Uniodonto do Brasil por 20 anos, entre 18 de fevereiro de 1987 e 30 de março de 2007. Um período marcado por profundas transformações na sociedade, na economia e no cenário da odontologia suplementar.
São muitas histórias para contar Sua gestão viveu um período intenso, marcado por fatos históricos como a promulgação da Nova Constituição, viveu incertezas e desafios das mudanças de moeda do Cruzado I para o Cruzado II, Cruzado Novo, Cruzeiro, Cruzeiro Real, URV e sua transição para o Real. Viveu o enxugamento de recursos provocado pelo Plano Cruzado, Plano Collor e Plano Real. O início das conexões via internet, no final dos anos 1990.
A edição da lei 9.656, de 03 de junho de 1998, conhecida como a Lei dos Planos de Saúde, que rege as relações das operadoras com o mercado e com a Agência Reguladora de Saúde Suplementar.
Foi o presidente da Uniodonto do Brasil na virada do milênio. Sob a gestão de Dr. Maud, a Federação foi transformada em Sistema Nacional Uniodonto de Cooperativas Odontológicas.
Ao longo da vida recebeu calorosas e verdadeiras homenagens. Entre elas a Medalha e Comenda Tiradentes, concedidas a 28 de abril de 2008, pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, como parte das celebrações de Tiradentes, Patrono da Odontologia. O prêmio, considerado a maior láurea da odontologia paulista, ratifica a conduta ilibada e a dedicação à carreira, o empenho e o mérito profissionais.
Uma pessoa que pela importância da obra que realizou, transcendeu o tempo que Ihe foi dado viver, permanecendo presente!
Mesmo em vida, deu nome à uma rua em sua cidade natal, Bebedouro. Também recebeu homenagens no aniversário de 20 anos da Uniodonto Bebedouro.
Dr. Maud deixa a esposa Vera Helena, a filha Flávia Maria, a neta Giovana e milhares de amigos, muitos deles no Sistema Uniodonto. Sua memória fica eternizada em todos nós, perenizada pela frase que era um verdadeiro mantra: Se você tem um sonho, lute por ele, acredite que você conseguirá. Nós certamente seguiremos conseguindo! Muito obrigado, Dr. Maud.